segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Toque de Celular

Seu telefone celular toca. Você vai atendê-lo, mas não há ninguém do outro lado da linha. Curiosamente, não há nenhuma chamada perdida, além disso, você percebe, depois de um momento, que confundiu o gorjear de um pássaro com o toque de seu telefone celular. O que é bizarro é que essa não é a primeira vez que isso acontece com você. Você provavelmente não está insano - em vez disso, está sofrendo do que veio a ser chamado de ringxiety (ansiedade pelo toque do telefone).
Não é de se surpreender que no mundo crescentemente sem fio e conectado, a humanidade começasse a sofrer de neuroses tecnológicas. Invenções eletrônicas tornaram-se parte das vidas diárias das pessoas no mundo todo. A ansiedade pelo toque do telefone está entre as primeiras destas novas neuroses a surgirem, juntamente com o vício em internet e o fenômeno de "crackberry" (blackberrymaníaco) - uma necessidade compulsiva de uma pessoa em utilizar e verificar seu dispositivo sem fio BlackBerry (um aparelho celular que possui funções de editor de textos, tem acesso à internet e e-mail) . Embora o vício pelo BlackBerry seja um comportamento compulsivo, a ansiedade pelo toque de telefone pode ser um resultado dessa compulsão e de outras similares.
A ansiedade pelo toque do telefone, primariamente alcunhada pelo psicólogo David Laramie, é exatamente o que soa ser: confundir o som de um telefone celular tocando com outro som similar a este. Visto que nenhum dano está feito, à parte de ser um pouco incômodo - especialmente se uma pessoa luta para localizar seu telefone - a maior parte das pessoas parece considerar a ansiedade pelo toque do telefone como uma curiosidade ou um fato da vida sem fio. Contudo, a origem desta alucinação ainda tem de ser exatamente determinada.
Alguns pesquisadores acham que a ansiedade pelo toque do telefone surge a partir de um constante estado de prontidão que poderia ser desenvolvido em usuários de telefones celulares. Antes do advento dos telefones sem fios, ninguém esperaria um telefonema enquanto estivesse dirigindo seu carro, fazendo compras em uma mercearia ou dançando em uma discoteca. Com os telefones celulares, entretanto, há um potencial para se receber uma chamada a qualquer momento. Por causa disso, é possível que nossos cérebros estejam condicionados a esperarem uma chamada constantemente - e, quando a pessoa ouve um tom que a lembre do toque de seu celular, acreditará que é este o caso.
Outros acreditam que a ansiedade pelo toque do telefone - ou, neste caso, o toque fantasma - simplesmente surja da confusão devido à freqüência da maior parte dos ringtones (toques) de celulares comuns e à localização de nossos ouvidos. A maior parte dos ringtones de celulares padrões é reproduzida a uma freqüência de cerca de 1.000 hertz. Seres humanos são particularmente sintonizados para captar sons dentro desta faixa de frequüência, especialmente se forem de tom único, como a maioria dos toques é. Entretanto, devido ao fato de as pessoas terem ouvidos nos dois lados de suas cabeças, é difícil para elas distinguirem a fonte de um som, especialmente nesta freqüência, por exemplo, de um telefone ou de um pássaro lá fora. Para alguns, isso explica o fenômeno do toque fantasma. Isso não é verdadeiro em relação a toques com múltiplos tons, como, por exemplo, uma versão em MP3 de uma canção popular.
Aqueles que optam por ajustar o telefone para "vibrar" em vez de "tocar" não estão imunes a isso também. Até mesmo mais estranho do que o toque fantasma é o fenômeno da vibração fantasma. Isso faz parte também da ansiedade pelo toque do telefone que David Laramie estudou, embora menos idéias em relação a suas origens tenham sido sugeridas. Ela é similar ao toque fantasma, mas a vibração fantasma é uma alucinação física em vez de ser uma alucinação auditiva.
Também é similar a um outro fenômeno bem documentado, chamado de síndrome do membro fantasma. Neste problema reconhecido cientificamente, amputados - pessoas que tiveram seus membros removidos - relatam dor em membros que não mais estão conectados a seus corpos. É possível que as pessoas tenham ficado tão ligadas a seus aparelhos de telefone celular de modo que sejam estes como seus próprios braços e pernas?
Embora a ansiedade pelo toque do telefone seja pouco mais do que um incômodo, pode dizer muito sobre as mentes daqueles que a vivenciam.
Se telefones celulares e BlackBerries tornaram-se tão populares que algumas pessoas imaginam que estão recebendo chamadas, é possível que os usuários tenham se tornado dependentes demais destes dispositivos? Que outros efeitos psicológicos têm estes dispositivos sobre nós?Em seu estudo sobre a ansiedade pelo toque do telefone, David Laramie descobriu uma conexão entre o uso do telefone celular e as experiências com a vibração/toque fantasma. Ele descobriu que dois terços das pessoas que analisou em seu estudo diziam que vivenciavam a ansiedade pelo toque do telefone. Aquelas que vivenciavam mais o fenômeno - 67% da população entrevistada - também eram as que mais faziam uso do telefone. Elas o utilizavam durante mais minutos, tinham contas telefônicas mais altas, tendiam a ser mais jovens e também enviavam mais mensagens de texto .
O fato de que as pessoas que passam mais tempo utilizando seu telefone vivenciarem a ansiedade pelo toque do telefone mais freqüentemente acaba não sendo uma surpresa muito grande. Entretanto, há um outro aspecto do estudo de Laramie que pode ser mais revelador. Ele descobriu que as pessoas que preferiam enviar mensagens de texto às outras tendiam a ser mais solitárias e socialmente ansiosas.
Isso quer dizer que um modo como uma pessoa utiliza seu telefone pode predizer seu tipo de personalidade? Possivelmente. Um outro estudo mostra que os telefones podem afetar diretamente a personalidade de uma pessoa. Especificamente, dispositivos wireless (sem fios) podem nos tornar menos felizes.
Em 2005, a psicóloga Noelle Chesley conduziu um estudo com 1.367 homens e mulheres que trabalham, têm famílias e utilizam telefones celulares. Ela descobriu um aumento no estresse e uma diminuição no nível de satisfação familiar tanto entre homens quanto mulheres que utilizam telefones celulares. Chesley acredita que isso se deve ao que ela e outros pesquisadores chamam de falta de clareza nas tradicionais linhas divisórias entre trabalho e vida familiar.
Esta falta de clareza se dá quando a permeabilidade dos limites de papéis ocorre. Sob esta condição, o papel de uma pessoa em uma parte de sua vida mescla-se com um outro papel. Por exemplo, uma mulher poderia receber uma chamada no trabalho de um de seus filhos procurando pelo controle remoto da TV em casa. Neste caso, o papel de mãe da mulher infiltrou-se em seu papel separado como funcionária.
A interferência da vida familiar no trabalho tem muito mais probabilidade de ocorrer para as mulheres do que para os homens, de acordo com o estudo de Chesley. Entretanto, homens e mulheres sofrem, da mesma maneira, com várias interferências do trabalho na vida familiar e o estudo aponta para os telefones celulares como o motivo pelo qual o trabalho acaba sendo um intruso na vida familiar. As descobertas de Chesley mostram que, enquanto as pessoas com telefones celulares sofrem de aumento de estresse e diminuição de satisfação familiar, o e-mail - uma forma mais "passiva" de comunicação - não produz os mesmos resultados. Isso sugere que os telefones celulares são mais intrusivos do que outras formas de comunicação e nossa felicidade sofre como resultado desta intrusão.
Assim, da próxima vez que você ouvir seu telefone tocar, mas ninguém estiver chamando, ou sentir seu telefone vibrar em seu bolso quando, na verdade, ele está em outra sala, recue por um momento. Talvez seja o momento de ponderar sobre a possibilidade de que você deveria tirar umas férias - em que deixe o celular em casa.

1 comentário:

Val disse...

Boa tarde Carlos,fiquei impressionada com estas novas doenças.Eu ainda não passei por esta e com certeza se passar tiro logo férias para descansar.Mais imagino que deve ter pessoas que estejam passando por isto;e vc podera ajuda-los.
Beijos com carinho